Carro movido a água foi inventado muitas vezes, mas nunca chegou ao consumidor final

Volta e meia vem alguém todo entusiasmado com o que imagina ser uma novidade: “Viu que inventaram o carro movido a água? E é aqui no Brasil”. Segue-se, invariavelmente, um comentário paranoico resignado do tipo: “As empresas de petróleo nunca vão deixar esse projeto ir adiante”.

Saiba que não é de hoje que aparecem inventores que descobrem como “queimar água” nas câmaras de combustão. Desde os anos 1950, esses alquimistas que transformam H2O em combustível têm sido notícia — mas foi nas crises do petróleo da década de 1970 que eles se multiplicaram e ganharam mais espaço nos jornais. Suas criações, contudo, nunca foram adiante.

De todos os inventores de carros movidos a água, o mais persistente foi o ex-vendedor de caminhões Sidney Godolphim. Entre 1970 e a década de 80, esse morador da Ilha do Governador tentou substituir os combustíveis fósseis pelo líquido insípido, inodoro e incolor. Afirmava que era possível percorrer 400 quilômetros com cem litros de água e um de gasolina.

Em suas últimas aparições na imprensa, ele lamentava ter seus pedidos de patente negados. Dizia-se vítima um complô econômico internacional e de quatro atentados. Chegou a ser internado em um hospital psiquiátrico, mas, mesmo assim, não desistia: falou até em criar um reator atômico que empregasse água em vez de urânio.

No desespero da crise do petróleo, houve gente que conseguiu fabricar em série dispositivos que “convertiam motores para o uso de água”. Em 9 de maio de 1976, Fernando Mariano, então editor de automóveis do GLOBO, testou o Piro-Jato, invenção do químico José Alencar Bueno Breack, de Campinas.

O aparelhinho fazia uma simples eletrólise: a água era decomposta em hidrogênio e oxigênio, que eram enviados para as câmaras de combustão. Prometia-se “economia mínima de 60% na gasolina”. Durante o teste feito pelo jornal, contudo, a diferença no consumo foi de 10%. E vale ressaltar que, antes de instalar o Piro-Jato, era feita a troca de velas, platinado e o ajuste do carburador, o que ajudava a gastar menos.

A verdade mesmo é que a internet tem um monte de notícias furadas sobre a indústria automobilística e uma delas é sobre um carro movido a água. É possível? Na teoria…

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Tá pensando que fake news é só na política? Ledo engano! Entra na internet, que é amelhor e maior fonte de asneiras de todo o tamanho que eu conheço, que você vai encontrar lá uma série de “recomendações” pra economizar gasolina, pra mudar o chip do carro, mais desempenho menos consumo… Tem de tudo!

Agora tem também, e teve até matéria de televisão no Espírito Santo sobre isso, do carro que anda com água. Ou você põe a água pra reduzir o consumo da gasolina ou do álcool. Mas como é essa história da água? Carro anda com água? Anda! Por quê? Porque da água – água não é H2O?- da água você tira o H2, que é o hidrogênio. O hidrogênio é combustível e faz o motor funcionar sem dúvida nenhuma.

Só que tem um probleminha: para você colocar o tanquinho d’água no carro, pra água tirar o hidrogênio, pra fazer o motor funcionar ou reduzir o consumo,você tem que ter muita energia elétrica. Você acaba com a sua bateria em poucas horas. Em resumo: a conta não fecha.

O que você gasta de energia elétrica é muito mais do que a energia que você obtém com aquele hidrogênio sendo queimado no motor. Entendeu porquê que essa história do carro andar com água é uma pi-ca-re-ta-gem?

Fontes: O Globo e AutoPapo

Gabriel Araújo: Jornalista, produtor de conteúdo digital, especialista em servidores Linux e Wordpress. Escreve sobre Carros, política, Esportes, Economia, Tecnologia, Ciência e Energias Renováveis.