BLOG DO DEUSIMAR- O HOMEM FORTE DAS ABELHAS COMPARTILHANDO MAIS UM ABALIZADO ARTIGO DO CONTERRÂNEO AMIGO JOSÉ GONÇALVES.

29

A CAATINGA E SEUS MUITOS ENCANTOS

Por José Gonçalves do Nascimento*

Ao se deparar pela primeira vez com a caatinga, espanta-se Euclides da Cunha com aquela “flora inteiramente estranha e impressionadora capaz de assombrar ao mais experimentado botânico”. Chega a ser contundente: “é uma flora agressiva”. Depois emenda: “agressiva para os que a desconhecem — ela é providencial para o sertanejo”.

A caatinga é mais que uma vegetação, é um templo. E o sertanejo tem com ela uma relação mais que amorosa: espiritual. Relação de devoção mesmo. Não há sertanejo que não venere a caatinga como se fosse esta uma coisa sagrada. Ela é quase indizível, imperscrutável. Somente os que com ela convivem são capazes de decifrá-la em plenitude. Nela coexistem valores que só o sertanejo é capaz de captar. A caatinga é uma questão de identidade. De espírito. De consciência. Não basta nela conviver. É preciso vivê-la, senti-la, penetrar sua essência. Beber sua seiva sagrada.

A caatinga traz a marca da resistência; não se curva às intempéries; e o sertanejo é sua imagem e semelhança; fez-se igual a ela: valente, forte e ousado; nada o detêm; nem mesmo a indiferença governamental de que é vítima secular; tampouco a seca é capaz de abatê-lo; com ela já aprendeu a conviver; sabe tratar-se de velha companheira daquelas rústicas paragens.

A caatinga é uma aliada inseparável do sertanejo; nela está sua vida e sua economia; nela residem seus encantos e desencantos; conhece-a ele como a palma da mão; sabe dos seus mistérios e segredos; não a ama: adora-a; jamais a deixará; dela extrai o sertanejo a melhor das culinárias – manjares quase que sagrados, como a refrescante umbuzada, a suculenta buchada de bode (regada à cana da boa), o saborosíssimo cuscuz de milho (servido com café quente), sem falar dos apetitosos beijus de tapioca (saboreados com manteiga da terra).

Com a caatinga vive o sertanejo sua cultura e sua fé. Nela e com ela estão os deuses e demônios que povoam o imaginário popular. Nela moram os lobisomens, as mulas-sem-cabeça, a caipora. Por entre cipós e carrascais transitam os santos do povo: São Cosme e Damião, São Lázaro, Santo Antônio, São João, Maria Virgem. Do pico das colinas levanta-se a voz dos profetas do novo mundo: Conselheiro, Romão Batista, Frei Caneca, Beato Lourenço, Eduvirgens, Irmã Dulce. Nas noites enluaradas estão o aboio do vaqueiro, o verso de cordel, o repente da viola, a fogueira de São João, o samba de roda, a banda de pífano, o bumba meu boi.

A caatinga é sui generis; seus galhos finos e retorcidos contrastam ora com os robustos e frondosos umbuzeiros, ora com as enormes e gorduchas barrigudas; os mandacarus, sempre imponentes, erguem-se em direção aos céus, como que a suplicar a ajuda do Divino; do alecrim-do-tabuleiro rescende a melhor fragrância, enquanto a canafístula acena com suas flores amarelas; exuberante, o araticunzeiro fornece seus doces e saborosos frutos da polpa cor de gema.

Vem a seca e tudo aquilo emudece. Morre, quase. A exuberância de antes transforma-se num mundão de mato acinzentado. Ressequida e desfolhada, a caatinga é só calmaria. Uma ou outra ave cruzando o céu, em busca de refúgios mais amenos. Nos barreiros, nenhuma gota d’água. Animais com sede vagueiam perdidos pelos pastos devastados. No céu, nenhuma nuvem. O quadro é de completa desolação.

De repente, como numa sinfonia de Beethoven, ronca o trovão, clareia o relâmpago e desaba a trovoada. E a caatinga ressuscita. Em poucos dias, ei-la a recobrar o verde de outras quadras. A revestir-se da sua farta e alegre vegetação. Por toda parte, ressurgem verdes e floridos os paus-de-rato, as cebolas-bravas, os umbuzeiros, as malvas, os alecrins, os juazeiros, as juremas, os pau-de-rato, as unhas-de-gato, os velames. Ao mesmo tempo, vibram felizes e festivos os sapos-cururus, os preás, os calangos, os gatos do mato, os beija-flores, as rolinhas, as juritis, os sofrês, os periquitos. E o sertanejo de novo se enche de contentamento, agradecido por tão preciosa dádiva.

A caatinga com seus muitos encantos é a síntese do Brasil guerreiro. Ela é o retrato da força e do heroísmo dos que, transitando na contramão da história, ousaram empunhar a bandeira surrada da liberdade.

*Poeta e cronista
[email protected]

A imagem pode conter: planta, flor e natureza
A imagem pode conter: céu, cavalo, atividades ao ar livre e natureza

Olá conterrâneo amigo José Gonçalves !! Me encanta seus belos artigos, inclusive,com os temas relacionados com nosso sofrido, porem, culturalmente rico sertão. Você enche os olhos dos(as) internautas descrevendo com muita propriedade as belezas, as riquezas do nosso Bioma Caatinga, o único bioma genuinamente,e 100¨% brasileiro. No parágrafo que você detalha as principais plantas do nosso rico bioma, permita-me fazer aqui a minha referência ao cacto crauá que fornece uma fibra muito mais macia que a agave sisalana, a milagrosa cultura do sisal. O crauá tem em abundância em nossa caatinga  , e infelizmente os homens e mulheres que estão no topo dos poderes nunca se interessaram em explorar esse rico extrativismo vegetal(atentai bem nas imagens abaixo postadas).    Parabéns!! É uma riqueza tão nobre seus artigos, que venho sempre compartilhando em nosso modesto blog- www.portaldenoticias.net/deusimar . Basta clicar e conferir lá, suas pérolas postadas aqui no face. Muito Obrigado!!COLABORAÇÃO E COMPLEMENTOS DE:

José Deusimar Loiola Gonçalves-
Técnico em Agropecuária(Assistente Técnico de Desenvolvimento Rural-FLEM-BAHIATER-Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas ; Licenciado em Biologia e Pós Graduado Em Gestão e Educação Ambiental(Apicultor e Meliponicultor).
Fones de contato: 75- 99998-0025( Vivo-Wast App); 75- 99131-0784(Tim-Wast App)