Quando o calendário repousa no dia 20 de junho, o coração do queimadense pulsa diferente – pulsa memória, orgulho e pertencimento. É como se o tempo parasse um instante para escutar o canto da história que ecoa pelas ruas de pedras, pelos patrimônios que resistem, pelas ruínas sagradas e pelos ventos da caatinga.
Ah, Santo Antônio das Queimadas… Terra antiga e altaneira, berço de fé e bravura! Cada pedra de seu chão conta causos antigos. Cada sombra de juazeiro guarda lembranças. E cada manhã que nasce sobre o Itapicuru traz no orvalho a promessa de um novo recomeço.
Reza a lenda que tudo começou com duas fazendas e um milagre. Sob a copa generosa de um juazeiro, surgiu uma imagem de madeira – era Santo Antônio, o milagreiro lusitano, chegando para ser farol espiritual de um povo em formação. No alto do outeiro, ergueu-se uma igreja. E com ela, firmou-se a fé que até hoje habita as almas queimadenses.
Mas nem só de bênçãos se faz a história. Também há sombras no caminho. Em plena trezena festiva, um crime silenciou o dia. Um escravo, de punho manchado, fugiu pelos matos, e ao Santo coube o peso da justiça dos homens. Julgado e condenado, perdeu bens – mas jamais perdeu a devoção do povo.
Queimadas tem raízes fundas, que se entrelaçam à religiosidade, à luta e à cultura. Foi chão dos índios tocoios, porta de entrada e sangue para Canudos e inspiração para Euclides da Cunha, em sua obra Os Sertões.
A nossa identidade cultural reside na memória que resiste, no rio Itapicuru que serpenteia sonhos e no rosto suado do sertanejo, onde o sol escreve coragem.
O tempo também trouxe provas. Enchentes castigaram a vila – levaram casas e esperanças – derrubaram a velha igreja. Mas a fé não se rendeu. Reconstruíram o templo em terras mais altas, e sob o manto de Nossa Senhora do Rosário, renovaram o altar da esperança. As ruínas ficaram – não como ruínas apenas, mas como memória viva, pedra sobre pedra, lembrando a força de quem resiste.
Hoje, Queimadas caminha. Às vezes rápido, às vezes devagar, às vezes tropeçando. Mas segue… Levada pelo passo firme de sua gente, pela poesia que brota da seca, pela música que nasce do silêncio. O progresso vem – não aos gritos, mas na teimosia doce de um povo que planta, sonha, trabalha e crê.
Sob o céu ardente do sertão, embalada pelo sopro quente do vento, pelo apito do trem e pela melodia do Itapicuru, Queimadas resiste, floresce e encanta. E nós, seus filhos – de sangue, de alma ou de saudade – seguimos dizendo:
Parabéns, Queimadas! 141 anos de emancipação política. Com as bênçãos eternas do teu bom padroeiro.
Texto: Por Professor Murilo Varjão – Colaboração: Professor Sergio Coelho
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