Por Florisvaldo F dos Santos
Não é de hoje que o país parece dividido entre “nós” e “eles”. Ricos contra pobres, heróis contra vilões, iluminados contra bárbaros. Cada lado empunha a sua verdade como uma espada moral, ainda que às vezes enferrujada. O curioso é que, quanto mais alto se sobe no palco desse teatro político, mais parecidos os personagens se tornam – mesmo quando juram que estão em lados opostos.
A narrativa que nos foi vendida desde sempre é a de um jogo justo. Mas bastou observar com atenção os bastidores para notar que o objetivo real nunca foi o equilíbrio das instituições. O que se desejava, desde o início, era ver o rival ajoelhado, com a cabeça baixa, nem que fosse por 24 horas – para poder, enfim, saborear a vingança servida fria e transmitida em rede nacional.
As últimas cenas falam por si. A liberdade monitorada, a tornozeleira eletrônica, a proibição de conviver com os mais próximos – e não estamos falando de um criminoso violento ou reincidente. A condenação é silenciosa, mas o constrangimento é estrondoso. Não há cela de grades, mas há uma prisão simbólica que humilha com mais eficiência do que qualquer parede de concreto.
Dizem que é justiça. Mas soa muito mais como espetáculo. Justiça não deveria se parecer tanto com vingança. Quando o suposto garantidor da Constituição passa a agir como promotor de punições exemplares, e quando o chefe do Executivo sorri por trás do silêncio, há algo de inquietante no ar. Algo que ultrapassa o direito e adentra o desejo – o desejo puro e nu de ver o outro sofrer.
E enquanto uns se deleitam com o “ajuste de contas”, a plateia começa a perceber o enredo real. Aquela sensação incômoda, que vem do fundo da garganta, de que todos ali – juízes e réus, mocinhos e bandidos – talvez não sejam tão diferentes quanto dizem. Afinal, quando todos jogam o mesmo jogo de poder, a única certeza que fica é que a farinha, mesmo com rótulos distintos, parece vir sempre do mesmo saco.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
1 comentário
AS VEZES TEM ACONTECIDO UM ESPETÁCULO DESNECESSÁRIO. INCLUSIVE PARA CERTOS CASOS PARECE MAIS UM CAÇA AS BRUXAS DO QUE UM INQUÉRITO DE FATO. QUANDO SABERMOS QUE Existem FATOS MAIS GRAVES SOB SIGILO, NÃO ENTENDEMOS A ESPETACULARIZAÇÃO DAQUILO QUE ESTAMOS ASSISTINDO TODOS OS DIAS, COM RELAÇÃO A UM ASSUNTO QUE DEVERIA TER MAIS CAUTELAS NAS AÇÕES.