A chegada da Família Real ao Brasil, em 22 de janeiro de 1808
Quando estou concentrado na busca do tema para a semana, aprecio reler as minhas crônicas passadas, principalmente para checar se os tempos mudaram de alguma forma. Assim, ao reler esse título – de 02/07/2016, nove anos atrás -, reavaliei que no Brasil “tudo está como dantes no quartel de Abrantes”! Esse ditado português “remonta ao período das invasões napoleônicas em Portugal, quando as tropas francesas chegaram a Abrantes. Apesar da presença estrangeira, o quartel manteve sua rotina e organizações habituais, sem qualquer alteração”! Será que esse quartel era tranqüilo, ou ninguém ligava para nada mesmo?
Nesses tempos amargos que o Brasil está passando, em que a criminalidade de todos os matizes domina a vida nacional, quando o nosso conceito internacional alcança as raias do achincalhamento pelo mundo, é mais do que natural que haja no íntimo de cada brasileiro um questionamento profundo quanto às razões de tudo isso que está acontecendo. Ou vamos nos portar de forma indiferente, como no quartel de Abrantes? Eis a pergunta que não quer calar…
Tenho pelos irmãos portugueses o maior carinho e respeito, além de um apreço muito grande por Portugal e sua bela capital Lisboa. Mas, para a compreensão de tudo isso que está acontecendo no País, é indispensável recorrer a alguns registros dos nossos historiadores, para identificar que algumas dessas mazelas foram tristemente herdadas dos primeiros colonizadores que chegaram ao Brasil, muitos deles portadores de maus exemplos morais. Assim, recordo alguns casos bem emblemáticos:
- a) Em 1516, o português Pero Capico chegou ao Brasil acompanhando a Armada comandada por Cristóvão Jacques, incumbida de patrulhar a costa brasileira. Nomeado pelo Rei D. Manuel I, foi aqui donatário de capitania. Mesmo nada tendo realizado de benfeitoria, voltou riquíssimo para Portugal. O Jesuíta português Padre Antonio Vieira afirmou que “eles chegam pobres nas Índias ricas e voltam ricos das Índias pobres”;
- b) Em 1543, Pero Borges foi nomeado pelo Rei para supervisionar a construção de um Aqueduto, lá em Portugal. Em 1547 foi descoberto que houve superfaturamento na execução do projeto – isso nos parece muito familiar…! -, e que o mesmo desviara da obra um valor que era uma fortuna naquele tempo. A Justiça o obrigou a vender uma fazenda para restituir o dinheiro e suspendeu o seu direito de exercer cargo público por 3 anos. E o que aconteceu um ano e meio depois? O Rei o premiou com a nomeação de Ouvidor-Geral do Brasil, equivalente a Ministro da Justiça de hoje. E veio com o Governador-Geral Tomé de Souza, desembarcando na Bahia em 1549. Tempos depois assumiu o cargo de Provedor-Mor, correspondente a Ministro da Economia.
- c) Por último, para não cansar o leitor, dizem que em oito anos de Brasil, o Rei D. João VI distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa. O conceituado historiador baiano Pedro Calmon disse que “para ganhar título de nobreza em Portugal eram necessários 500 anos, mas, no Brasil, bastavam 500 contos de réis”. Pergunta-se: Que infeliz de País é esse?
Não vai aqui, absolutamente, qualquer intenção de atribuir todos os males e condenar os irmãos portugueses pelo País que somos hoje, mesmo porque há uma trajetória histórica de 525 anos desde o descobrimento, durante a qual tivemos exemplos, modelos e oportunidades de toda ordem para mudar e definir um novo conceito de cidadania, respeito e integridade, sem a concepção de que todo mundo é bandido. Ou, melhor dizendo com todas as letras, que todo mundo é ladrão!
Oxalá, se as instituições e as lideranças que ocupam os cargos de comando em todos os níveis não assumirem a firme determinação de mudança, que o cidadão brasileiro busque uma nova atitude visando a transformação dessa estrutura corroída e arruinada!
Como cantou o Cazuza, com muita propriedade e que serve de título aqui: “BRASIL, MOSTRA A TUA CARA”! Sinceramente, o Brasil não pode viver com sua cara escondida pela vergonha!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador–BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
8 Comentários
Bom dia Caro Agenor
O editorial desta semana mostra o seu primor de lucidez e sensibilidade ao traçar paralelos entre fatos históricos e a realidade atual, oferecendo ao leitor uma verdadeira aula de história – possivelmente mais reveladora do que muitas que recebemos nos bancos acadêmicos.
Com clareza e espírito crítico, voce mostra que muitos dos vícios da nossa sociedade têm raízes antigas, e faz isso sem perder a leveza nem o rigor.
Sua escrita instiga, informa e desperta reflexões profundas sobre nossa identidade como nação.
Mais que um texto, é um convite à consciência. Um registro que enriquece e engrandece o debate público.
infelizmente pouco mudou no contexto histórico e político do Brasil nestes 525 anos que ficaram para trás, onde o egoísmo humano prevalece em suas atitudes, em nosso quadro político atual observemos que uma maioria significativa de cidadãos, transita pelo extremismo, diria equivocado.
Recordando que a própria natureza Divina nos oferece o tom deste equívoco, se não vejamos, o frio
intenso causa desconforto, doenças e
mortes, com o calor extremo não é diferente. O Criador
nos dá o tom, cabe a nós observarmos o modelo de comportamento a ser edificado em nossas ações.
Enquanto o ser humano olhar para seu próprio umbigo, ignorando a dor a seu redor, estaremos dando voltas em círculos, sem sair do lugar, em termos Morais.
Bom-dia, meu amigo Agenor por mais uma belíssima reflexão. Continua “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. (Maracás-BA).
Como se ver o problema é crônico e pelo jeito sem solução. Artigos como esse nos chamam a atenção de que não podemos nos calar NUNCA. Caso contrário, o pior vai piorar, e aí todos sabem no que vai dar… até rimou!
A cara do Brasil, hoje, é de ladroagem, com esse bandido condenado pelas nossas 3 instâncias , com a confirmação do STF, este mesmo Supremo que, monocraticamente, o soltou para participar de uma eleição fraudulenta; este mesmo Supremo que, hoje, foge do seu papel de fiscalizador dos cumprimentos legais da nossa constituição, traindo-a, com perseguições políticas, em benefício da ditadura comunista que aí está, mas que, com a persistência do povo brasileiro, voltaremos a ter uma democracia legalizada pela nossa constituição. Fé em Deus. (Miguel Calmon-BA).
Fico aqui, com meus pensamentos, procurando entender qual era a cara do Brasil antes do surgimento da esquerda.
Roubo, rapinagem e ladroagem, sem direitos a reclamações, pois não havia quem reclamasse e também quem prestasse atenção. Só elite e os pobres.
Então, tudo mudou a partir de 2002, todos os males do Brasil, a partir de 1500, foram e são eles os culpados.
Daqui a pouco vamos achar que as benesses surgidas, por conta deles, esquerda, são ilusões.
Agora mesmo tem um negão na frente do STF falando em ditadura.
Fico imaginando, eu na ditadura militar, reclamando na frente do quartel. O mínimo que aconteceria comigo…
Vamos deixar de achismo e pensar a história sem um viés político. (Salvador-BA).
Parabéns. Crônica verdadeira. Quanta falcatrua. Roubalheira incansável. (Salvador-Ba).