No cenário político contemporâneo, a disputa pelo poder deixou de se restringir à arena institucional ou à execução de políticas públicas. Cada vez mais, ela acontece no campo simbólico, onde narrativas são construídas, repetidas e disputadas como verdades absolutas. O fato em si importa menos do que a forma como é contado. E todos nós já sabemos como eles contam para “encantar” o eleitor desavisado, principalmente. A ilustração diz tudo!!!
Quando a política se transforma em palco, o cidadão deixa de ser protagonista e assume o papel de plateia, consumindo enredos prontos como se fossem novelas. A opinião pública acaba sendo envolvida mais por afirmações enganosas do que pela realidade. Em vez de políticas públicas objetivas e efetivas, distribuem-se discursos inócuos e repetitivos, com impacto simbólico, mas sem resultados concretos. Como disse o alemão Joseph Goebbels:“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade“. É uma narrativa verdadeira…
A narrativa passa a ser uma forma envolvente de governar: controla o debate, mascara a ineficiência e ocupa espaço no imaginário coletivo. A política adquire a configuração de um campo de batalha, em que o uso das palavras cria múltiplas interpretações dos fatos históricos e recentes, sempre conforme a conveniência política do presente. Nesse processo, o eleitor deixa de ser um cidadão crítico e se converte em público consumidor de discursos, cuidadosamente produzidos com intenções perversas, mentirosas e calibradas de total enganação ao bel prazer deles!
Vivemos a era fértil da política das narrativas. Governos, partidos e lideranças constroem versões que oferecem leituras diversas de um mesmo acontecimento: uma derrota eleitoral pode ser apresentada como resistência heroica; uma medida impopular, como um mal necessário; um escândalo, como insana perseguição. A realidade vai sendo moldada aos interesses e conveniências.
O problema é que, quando a narrativa se sobrepõe aos fatos, a política corre o risco de se tornar espetáculo permanente, esvaziada de resultados reais. Argumentos forjados mascaram ineficiências, desviam a atenção de crises concretas e mantêm o poder mais pela sedução da palavra do que pela transformação da vida cotidiana.
No fundo, a política das narrativas não é apenas técnica de comunicação. É uma tática de sobrevivência. E, pela eficácia desse recurso, o povo acaba sendo engabelado, envolvido em paixões desmedidas que, frequentemente, ultrapassam os limites da racionalidade, chegando ao exagero de endeusar líderes transformados em “mitos”.
Assim, diante do uso excessivo e generalizado das narrativas como instrumento de convencimento, agentes políticos consolidam poder e alcançam postos nos Legislativos e Executivos. Enquanto isso, a história vai sendo escrita, e o povo administra sua vida sob o peso das dificuldades e intempéries, sempre nutrindo a esperança de dias melhores.
Numa demonstração de que as “Narrativas” estão mais do que vivas, a Câmara dos Deputados concluiu na última quarta-feira (17/09), em 1º e 2º turnos, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende blindar os parlamentares de processos criminais, ou seja, estabelecer que o Supremo Tribunal Federal-STF, estará condicionado a julgar criminalmente Deputados e Senadores somente após a permissão aprovada pelas duas Casas do Congresso. A proposta ainda depende de aprovação do Senado Federal, mas, visto que a “narrativa” é em benefício próprio, certamente será aprovada pelo Senado. Ou seja, como diz certo ditado: “Mateus, primeiro os meus, depois os teus”…
Concluo reafirmando que ao eleitor cabe a grande responsabilidade de avaliar e distinguir entre o enredo bem contado por eles, e o projeto real de país. É uma tarefa difícil, mas indispensável.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
3 Comentários
Meu caro Agenor, gostei das narrativas!
Afinal, os políticos são verdadeiros artistas: transformam escândalos em “perseguição injusta”, derrotas em “resistência heroica” e até a blindagem de seus próprios privilégios em “defesa da democracia”. Se fosse novela, seria daquelas de temporada infinita, com roteiro previsível e elenco sempre repetido. A diferença é que, no teatro político, o ingresso quem paga é o eleitor, que aplaude de pé sem perceber que faz parte do enredo. No fim, sobra para o povo apenas o papel de figurante – e ainda sem cachê.
Obrigado!
Parabéns pela crônica, amigo! Mais uma vez, os políticos criando leis para protegê-los de suas falcatruas. (Rio de Janeiro-RJ).
PERFEITO ARTIGO ONDE A SUTILEZA Predominou. PALAVRAS BEM DITAS E EXEMPLOS BEM CITADOS EM MUITO
CONTRIBUIRAM PARA TOCAR NUM ASSUNTO TÃO VERDADEIRO. EM RESUMO, AS NARRATIVAS FORAM MUITO BEM NARRADAS, E BEM LEMBRADAS AOS LEITORES, QUE MUITAS VEZES PASSAM DESPERCEBIDOS DAQUILO QUE ELES DIZEM E EFETIVAMENTE FAZEM!