Tudo começa na segunda metade do século XVI, quando fazendeiros e sesmeiros junto com homens mestiços anônimos partem da região de Salvador rumo a caatinga, com o intuito de expandir a pecuária.
Quando esses anônimos homens mestiços chegam na região da caatinga baiana (sobretudo na região da bacia do Jacuípe), a cultura vaqueira e sertaneja começa a se formar.
A partir daí é dada o início do ofício de vaqueiro e da civilização sertaneja, onde sua cultura de forma primitiva inclui; o próprio vaqueiro, chapéu de couro, trajes de couro, objetos de couro, manejo com o gado, aboio, cantos, culinária, técnicas de medicina, equipamentos arquitetura específica etc.
A alimentação dos vaqueiros girava em torno do gado, seu principal alimento era a paçoca de carne seca e o leite, mais tarde a sua culinária iria se enriquecer.
Com a sua cultura primitiva formada, os vaqueiros baianos dão origem ao tropeirismo sertanejo, e avançam ainda mais rumo aos sertões expandindo a pecuária, a leva de animais, e sua cultura, assim povoando os sertões da Bahia, e se assentando em fazendas fundadas pelos sesmeiros da casa da torre do Garcia d’Ávila.
No século XVII na região do Rio são Francisco na margem baiana, os vaqueiros iriam se armar e dar origem aos jagunços, os típicos homens armados com chapéu de couro e trajes de couro, o que mais tarde, séculos depois, iriam ganhar fama na chamada “guerra de canudos” e “sediação de Juazeiro” – Posteriormente o jagunço iria se transformar no cangaceiro a partir de 1920.
Esses vaqueiros baianos após ocuparem e espalharem sua cultura por toda Bahia, iriam avançar rumo a outros estados do nordeste; Sergipe, sertão de Pernambuco e Paraíba, Piauí, chegando ao sul do Maranhão e Ceará, assim fixando a cultura sertaneja de forma primitiva.
Não só os vaqueiros viriam ter influência nessas regiões, mas também os sesmeiros e fazendeiros da casa da torre; que incluía portugueses, baianos e paulistas, que deixaram a sua descendência pelo sertão, além dos pernambucanos.
Outras partes que não foram ocupadas pelos vaqueiros baianos (como o agreste pernambucano, Alagoas e Rio Grande do Norte), também iriam sofrer influência cultural desses vaqueiros devido a sua experiência profissional com a pecuária.
Assim a cultura sertaneja virou a principal identidade do nordeste, e vem se desenvolvendo do século XVI até os dias atuais em toda região.
Outras regiões que também é possível notar resquícios dessa cultura, é o Norte de Minas Gerais e sul do Tocantins, o que inclui; o chapéu de couro sertanejo principalmente, e o aboio, além da pega de boi.
O Norte de Minas também teve a presença de vaqueiros baianos, embora a presença de paulistas nessa região fosse mais significativa.
Também é possível notar alguma influência sertaneja no centro-oeste com o aboio, e no Rio Grande do Sul com a carne seca.
Um dos cadernos que aborda o vaqueiro e sua origem: IPAC – ofício de vaqueiro
Créditos: @caatingueiro – Colaboração: Nilton Moura
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
1 comentário
Ao reler a história dos vaqueiros nordestinos, contada com tanto zelo nesse artigo, me veio logo na lembrança os cabras valentes que conheci lá pras bandas de Cansanção. Homens de fibra, duros igual mandacaru na seca, que não arredavam o pé diante de boi brabo nem de tempo ruim. Gente como Lúcio da Parelha, Luiz Barreto, Matias do Pau de Colher, Pedro Lopes, Tiaguinho do Pau de Colher, Valto do Manoelzinho – nomes que ainda ecoam nos aboios e nas conversas de beira de estrada.
Esses vaqueiros mais antigos, que a gente via montado antes do dia clarear, sabiam do ofício na palma da mão. Com o gibão surrado, chapéu de couro bem firme na cabeça e o coração cheio de coragem, enfrentavam a caatinga como quem enfrenta a vida: no braço, na fé e na honestidade. Criaram boi, criaram família, criaram história.
O que esse artigo mostra é que o vaqueiro não é só uma figura do passado – ele é o alicerce da cultura sertaneja, é quem abriu caminho por dentro do mato seco e levou junto o saber, a comida, o canto e o jeito de viver do povo do sertão. E na Bahia, especialmente ali na bacia do Jacuípe e adjacências, esse legado ainda respira forte.
Que nunca se esqueça desses homens, pois quem conhece um vaqueiro de verdade sabe: ali tem mais do que couro e poeira – tem alma, tem luta e tem honra.