Já algum tempo, sempre que ouvia a expressão, ‘retrato falado’, costumava associar à alegria e bom humor. Isto por causa de um excelente quadro do programa ‘Fantástico’, da Rede Globo, e reprisado hoje pelo Canal ‘Viva’, em que a excelente atriz Denise Fraga interpretava o “retrato falado” de diversos personagens da vida real.
Mas, esta semana, sucedeu algo que mudou a minha visão a respeito da expressão que rapidamente era associada à alegria. Trata-se do linchamento de uma mulher, no Guarujá, litoral paulista.
Foi essa monstruosidade que descaracterizou a minha percepção a respeito da expressão, “retrato falado”, e que, por algum tempo, provavelmente, ainda vai ser substituída na minha cabeça.
A dona de casa foi linchada por populares, justamente, por causa de um retrato falado exaustivamente veiculado em redes sociais.
Logo depois do linchamento, descobriu-se que a vítima não era a mesma que o retrato acusava.
Depois desse caso horrendo, fiquei pensando no papel das redes sociais e que, talvez, cada vez mais existirá a importância de uma imprensa com qualidade, em que bons jornais com credibilidade serão fontes de pesquisa e informação para a população, antes de sair por aí, fazendo justiça com as próprias mãos, a torto e a direito.
Por isso que resolvi tentar escrever a respeito desse tema tão abrangente e espero ser claro em minhas colocações.
A imprensa no Brasil tem mudado muito nos últimos tempos, apesar de ainda existirem erros, ela vem desempenhando direito o seu papel de porta-voz do nosso povo.
As denúncias contra as empresas que teriam participado do cartel dos trens na capital paulista, Alstom e a Siemens, além das investigações sobre o envolvimento da Petrobras em desvio de recursos e má administração são as provas concretas do importante trabalho praticado pela imprensa em nosso país.
Entretanto, existem casos em que essa mesma imprensa, vez por outra, exagera e transforma a notícia em um verdadeiro show.
Principalmente, a imprensa televisiva, quando acontece de alguns telejornais, por ocasião dos índices de audiência ou pelo furo na reportagem, ficam repetindo algumas imagens à exaustão, ao mesmo tempo em que tece comentário, no calor do ‘ao vivo’, em que muitas das vezes não condizem com os fatos que serão apresentados na sequência.
Foi o que assistimos em transmissões históricas como o 11 de setembro, quando os Estados Unidos estavam sendo atacados pelos terroristas. A mesma situação de sensacionalismo da imprensa se repetiu no Rio de Janeiro, no dia 12 de junho de 2000, quando houve o sequestro do ônibus 174, que acabou com a morte de uma jovem pelo sequestrador e a morte dele pela polícia.
Esses dois exemplos à cima, dão a dimensão do quanto à imprensa se aproveita de situações como essas para promover o seu “showzinho”. Na ocasião as revistas semanais publicaram, por semanas consecutivas, matérias sobre o atentado aos Estados Unidos, nas quais exibiam imagens que nos chocavam.
Entretanto, esqueceu-se de assuntos, relevantes que estavam acontecendo naquele momento no nosso país, por exemplo, o caso da morte do prefeito de Campinas, Toninho do PT.
Apesar de ter mudado, a imprensa, especialmente a brasileira, precisa de muitos ajustes para chegar, digamos, a perfeição. Como sabemos que essa perfeição é utópica, só nos resta esperar que houvesse, no mínimo, responsabilidade, precisão e objetividade naquilo que se dispuser a publicar.
Para isso que precisamos da boa imprensa para continuar a denunciar as falcatruas existentes por aí, além de continuar a reportar assuntos de interesse público.
Acredito que a imprensa vai continuar sendo a nossa porta-voz, ainda mais agora com esse caso que aconteceu no Guarujá. Infelizmente, foi necessário que acontecesse algo tão terrível para que as pessoas acordassem e entendessem que não se deve acreditar em tudo o que é vinculado pela internet e por jornais, impressos ou televisivos, com conteúdo duvidoso.
A partir de agora, creio que, os bons veículos de comunicação e os envolvidos nas notícias serão uns dos principais agentes para que absurdos como esse não voltem a se repetir.
É obvio que existem outros fatores para que acontecimentos como esses, a respeito de incentivo à violência, não venham se repetir. E o papel dos veículos de comunicação com suas imagens e opiniões, certamente, será um caminho importante.
A internet, juntamente com suas redes sociais, precisa passar por um filtro, e todos nós precisamos tomar a consciência de que devemos pesquisar muito antes de replicar alguma notícia ou informação.
Portanto, é urgente que isto aconteça, e que os responsáveis por esses atos sejam punidos com rigor e, assim, quem sabe a minha impressão a respeito da frase ‘retrato falado’, volte a ser aquela que eu tinha anteriormente.
Marcelio Oliveira (Para o Portaldenoticias.net)
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