“Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” Albert Einstein
Felicidade em dose dupla, em primeiro lugar, em ver a estatueta de melhor atriz coadjuvante ser entregue a jovem atriz Lupita Nyong’o, e em segundo, que o filme “12 Anos de Escravidão”, merecidamente, venceu a disputa pelo Oscar 2013, concorrendo com mais 8 excelentes filmes, entre eles, talvez, o mais “espetacular”, “Gravidade”, do talentoso diretor Alfonso Cuarón, vencedor na categoria melhor diretor.
Ao mesmo tempo me entristeço em perceber que ainda somos obrigados a ver casos de racismo como o que aconteceu no Rio de Janeiro com o ator Vinícius Romão, que atuou na novela “Lado a Lado”, da Rede Globo.
Sem nos esqueceremos das mais recentes e pavorosas demonstrações de racismo e discriminação racial no futebol que teve como vítima o jogador do Cruzeiro Tinga, alvo de ofensas racistas por alguns torcedores peruanos na estreia do time mineiro na Taça Libertadores da América.
Além de dois casos lamentáveis ocorridos nos jogos deste meio de semana, aqui no Brasil. Um no interior do Rio Grande do Sul, envolvendo o arbitro Márcio Chagas da Silva após a vitória do Esportivo contra o Veranópolis, em Bento Gonçalves, e outro com o volante Arouca, do Santos, na partida contra o Mogi Mirim.
Esses são exemplos pontuais de muitos que acontecem por aí todos os dias em nosso país e no mundo, ainda que estejamos em pleno século XXI, em que a falta de respeito mutuo ainda acontece.
Existem preconceitos que até são, de certa maneira, “aceitáveis”, mas de maneira alguma justificáveis. No entanto, penso que o preconceito racial é o mais covarde e arcaico de todos. Nunca deveria ter existido. Não deveria existir de maneira alguma.
É notório que o preconceito existe em qualquer lugar do mundo, mas aqui no Brasil se apresenta de uma forma maquiada. As pessoas preconceituosas, geralmente, não se pronunciam como tais.
Em Nova York, é raro que um restaurante ou uma loja da Quinta Avenida não empregue negros. Em São Paulo, não há negros nem nos restaurantes, nem nos shopping centers. Eis toda a diferença entre um país assumidamente racista, mas que luta para integrar sua sociedade, e uma suposta democracia racial, que deixa estar para ver como é que fica.
Ninguém assume ser racista. O preconceito é sempre do outro, nunca de si mesmo. Esse caráter inconsciente é uma característica peculiar do nosso racismo.
“No Brasil não existe preconceito de raça, de cor nem de religião.” O slogan é bonito, mas, como quase todos eles, pecam pela falta de honestidade.
O preconceito racial continua em alta, até parece que nunca existiu o dia 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Os negros até hoje continuam escravizados, muitos ainda sobrevivem de subempregos, marginalizados, não tendo o reconhecimento merecido, mesmo que tenham instrução, venham de famílias estruturadas, continuarão a serem vítimas do preconceito.
A prática de qualquer tipo de preconceito é inadmissível, principalmente em se tratando das questões de cunho racial. Neste momento em que vemos negros em plena ascensão, a exemplo dos ganhadores do mais recente Oscar e do nosso Ministro do Supremo Joaquim Barbosa, não dá mais para ignorar a presença do negro tão forte e importante em todos os setores da sociedade.
Na seara da arte temos muitos exemplos pelo mundo, por aqui, ficamos com o grande ator Milton Gonçalves que acaba de completar 80 anos, partes destes dedicado a interpretação, além do seu engajamento político. Tudo com muito sucesso e servindo de exemplo, de bons exemplos, para novos artistas que seguem o mesmo caminho, como a atriz Thaís Araujo e o ator Lázaro Ramos, os primeiros negros a protagonizarem novelas das nove.
Apesar de já existir revistas direcionadas ao segmento e a mídia abrir mais espaço para os negros, muito ainda deve ser feito para se fazer justiça quanto ás diferenças existentes entre brancos e negros.
O ministro Joaquim Barbosa, já citado aqui, é um dos grandes nomes que estão fincados nesta nova ordem que serve de exemplo para outros entenderes que chegou a hora e a vez do negro mostrar o seu valor.
Hoje ainda temos que assistir episódios como os citados acima de racismo explícito. Sem contar que aqueles velados continuam a existir em números absurdos. Convém ressaltar que o racismo nem sempre ocorre de forma explícita. Além disso, existem casos em que a prática do racismo é sustentada pelo aval dos objetos de preconceito na medida em que também se satiriza racialmente ou consente a prática racista, de uma forma geral. Muitas vezes o racismo é consequência de uma educação familiar racista e discriminatória.
Foi preciso, inclusive a existência de leis contra o racismo, pois esse crime, como todos já sabem, é inafiançável. E que assim seja, pois somente através da punição rigorosa para aqueles que ainda têm qualquer tipo de preconceito, especialmente o racial, precisam ser castigados para entenderem que estão agindo de maneira totalmente errada.
O cinema tem essa magia de trazer para todos, momentos de reflexão e deslumbramento. São histórias que nos leva a refletir a respeito de assuntos variados e de extrema importância, trazendo muitas vezes, a luz, diversos temas atuais ou mais antigos. O filme “12 Anos de Escravidão” é um desses filmes importantes para se assistir com toda a família e por todos, para voltarmos a discutir a importância do respeito a todas as raças.
Portanto, é preciso que sejamos francos quanto aos nossos preconceitos, discutir o assunto pode ser o primeiro passo para acabarmos com o problema. Já que somos todos iguais, devemos começar a nos vermos como tais e, assim, conseguiremos conviver e aceitar as diferenças.
Marcelio Oliveira (Para o Portaldenoticias.net)
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