Médico cubano critica a ditadura e desabafa “Fico nem que seja para recolher lixo ou varrer rua”

Parte dos médicos cubanos que integravam o programa “Mais Médicos” começaram a deixar o país ontem (22). Um grupo embarcou durante a noite em dois voos fretados pela Organização Pan-americana de Saúde (Opas), saindo de Brasília com destino a Havana. A previsão da Opas é que esse processo dure até o dia 12 de dezembro. A entidade é a responsável pelo acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde que viabilizou a contratação e a manutenção dos profissionais daquele país no Brasil.

Apesar de alguns profissionais estarem voltando para o país de Fidel, tendência é que muitos não acatem o pedido de retorno e fiquem no Brasil. O médico Adrian Brea Sánchez, de 30 anos, recebeu em sua caixa de email a mensagem que tanto temia. O governo cubano marcou para o próximo dia 5 o voo de retorno dele para Cuba. Segundo o comunicado, a passagem aérea será enviada na véspera da viagem e ele terá que se apresentar no aeroporto de Brasília.

Adrian Brea Sánchez chegou ao Brasil em março de 2017 e tinha um contrato de três anos assinado com a Opas Foto: Arquivo pessoal / O Globo

Sánchez está a mais de mil quilômetros de distância da capital federal. Desde que chegou ao Brasil em março de 2017, vindo de Santiago de Cuba para trabalhar no programa Mais Médicos, ele vive em Pirapetinga, um município de cerca de 10 mil habitantes em Minas Gerais. Até ontem, o cubano diz que era o único médico de família da cidade, quando foi avisado pela secretaria de saúde municipal que seria desligado do programa por ordem da Organização Pan Americana de Saúde (Opas). Ele já decidiu que não atenderá à convocação do governo de seu país.

Revoltado com a ditadura cubana, Sánchez rompeu o silêncio e deu uma entrevista ao GLOBO. Ela fez duras críticas a Opas e ao governo de seu país natal e diz que ficará no Brasil nem que tenha que “trabalhar recolhendo lixo ou varrendo rua”. Ele afirma não acreditar mais no governo cubano e, diferentemente da maioria dos médicos da ilha que estão no Brasil, diz não ter medo de represálias.

Sanches abriu o coração “Eu vou ser considerado desertor. Estarei proibido de voltar a Cuba por oito anos. O que eles vão fazer? Vão me matar? Quem garante que se eu voltasse para lá eles não iam aplicar uma medida disciplinar ou invalidar meu diploma? Todo dia acontece algo novo” desabafou.

Gabriel Araújo: Jornalista, produtor de conteúdo digital, especialista em servidores Linux e Wordpress. Escreve sobre Carros, política, Esportes, Economia, Tecnologia, Ciência e Energias Renováveis.