
A crescente presença da inteligência artificial no ambiente corporativo não é motivo de receio para Taiza Krueder, CEO do grupo hoteleiro Clara Resorts. Pelo contrário: em artigo publicado na Exame, a executiva afirma enxergar a tecnologia como uma aliada para transformar a liderança e impulsionar a eficiência.
Em sua análise, Krueder observa um fenômeno que considera curioso: as inteligências artificiais (IAs) não apenas impactam os processos diários das empresas, como também competem diretamente com profissionais mais jovens — especialmente os da geração Z, formada por pessoas nascidas entre 1995 e 2010.
Resistência à geração Z
Embora essa geração seja uma das mais influentes nos ambientes digitais, uma pesquisa da ResumeBuilder divulgada em 2023 mostrou que 74% dos gestores a consideram a mais difícil de se trabalhar, apontando fatores como falta de independência e dificuldades em lidar com adversidades da rotina organizacional.
Outro estudo, realizado recentemente pela Hult International Business School, revelou que 37% dos gestores preferem direcionar seus orçamentos para a contratação de soluções baseadas em IA, em vez de investir na contratação de profissionais mais jovens.
Taiza Krueder, no entanto, segue uma lógica diferente e aposta na convivência intergeracional. “Em nossa rede de alta hotelaria, a abordagem tem dado resultados extraordinários — tanto que mais da metade do quadro de colaboradores é dessa geração. Antes de criticá-la negativamente, é preciso entendê-la e ver o que traz de inovação e oportunidades”, destaca.
Humanos X IAs
Diversas análises e tendências apontam para um cenário em que a mão de obra humana será, inevitavelmente, substituída por inteligências artificiais. Sobre isso, Krueder explica que sempre enxergou essas tecnologias como recursos capazes de potencializar as capacidades humanas.
Competências como repertório e soft skills fazem a diferença na forma como as pessoas interagem com as ferramentas e alcançam resultados mais assertivos. “Quem souber criar os melhores prompts, extrairá maior valor desta revolução tecnológica. Também aprendi que polidez e gentileza geram respostas mais completas e precisas, já que as ‘máquinas’ têm como base os relacionamentos humanos”, afirma.
Além do medo da substituição, a IA também desperta debates sobre o uso de dados pessoais e o reaproveitamento de trabalhos de artistas e escritores. Leis como a LGPD e normativas sobre plágio e uso indevido de dados ainda estão em fase de amadurecimento, mas já oferecem alguns limites éticos importantes.
Assembleia de inteligências sintéticas
Durante uma visita a Barcelona, Krueder teve contato com uma aplicação da IA que a surpreendeu: a possibilidade de criar um Conselho Administrativo virtual, formado por avatares de executivos notáveis. A proposta consiste em reunir inteligências sintéticas treinadas com base no pensamento estratégico, filosofia de gestão e histórico de decisões de grandes líderes do mundo corporativo.
Segundo a CEO, esse “novo board” permite consultas estratégicas sob demanda, com contribuições que simulam, por exemplo, o raciocínio de Warren Buffett para decisões financeiras ou de Satya Nadella em questões tecnológicas. Além disso, o conselho virtual oferece perspectivas divergentes — algo essencial para evitar o risco do pensamento de grupo, comum em estruturas tradicionais.
Taiza Krueder ressalta, contudo, que a implementação de uma estrutura como essa exige cuidados importantes. É fundamental alimentar os sistemas com dados atualizados e informações específicas de cada organização, garantindo que as recomendações estejam contextualizadas. Além disso, é indispensável estabelecer mecanismos de avaliação humana para todas as sugestões geradas.
O papel do líder na era da IA
Para a CEO do Clara Resorts, a ascensão da inteligência artificial exige dos líderes mais do que conhecimento técnico: é preciso saber conduzir equipes em meio às transformações, mantendo o foco no desenvolvimento humano e no uso ético da tecnologia.
Entre os desafios centrais, ela destaca o equilíbrio entre automação e preservação de empregos, a mitigação de vieses nos algoritmos e a proteção da privacidade dos dados. No setor hoteleiro, aponta, é crucial definir com clareza quando delegar tarefas às máquinas e quando preservar o toque humano — pilar essencial da hospitalidade.
Para lidar com essas questões, a executiva adotou uma abordagem baseada em três pilares: capacitação contínua em IA para todos os níveis da organização; formação de equipes híbridas, que combinam a experiência de profissionais seniores com a fluência digital da geração Z; e a criação de comitês de ética para acompanhar a implementação das tecnologias.
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