Paulo Menezes e Jose Deusimar
Final da tarde de hoje tive uma boa prosa com seu Nonato. Sua memória, com seus 98 anos de idade, é algo que impressiona. Conversou bastante sobre o ano de 1927. Tinha na época 9 anos, mas lembra com detalhes a passagem de Lampião na região. Morava na cidade de Itaú, zona oeste do Rio Grande do Norte onde viveu sua infância e juventude. Ao anoitecer sua família deixava a cidade e iam todos dormir no mato pelo temor de seus pais ao bando de Virgulino Ferreira. Como não tinha medo de nada, se divertia muito com aquela situação, pois na dormida fora de casa ficava a brincar com os irmãos na areia fria do rio. Quando faziam zoada eram advertidos pela mãe que temia serem escutado pelos cangaceiros. As notícias, dizia ele, eram vindas por emissários através dos correios, único meio de comunicação à época. Lembra o nome de vários componentes do grupo, como Jararaca, Corisco, Asa Branca, Azulão, Sabino e tantos outros. Falou do sequestro de Antônio Gurgel do Amaral, que Lampião o manteve como refém para se proteger. Lembra que Sabino, um dos comparsas de Lampião, ao se aproximar de Mossoró, foi quem libertou o prisioneiro na fazenda Boa Sorte, perto do Jucuri. Recorda da resistência de Mossoró, do prefeito Rodolfo Fernandes, de Padre Mota, de Manuel Duarte, do motorista Gatinho, figuras importantes no combate e resistência da cidadela. Foi um tarde agradável que passei ao lado de um dos maiores amigos de meu saudoso pai.