COLUNA DO AGENOR – AS PERNAS CURTAS DA MENTIRA

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Frequentar ambientes públicos, como bares e restaurantes, às vezes surgem oportunidades muito especiais de observar atitudes e, mesmo involuntariamente, ouvir diálogos de toda natureza entre os circundantes que permitem extrair experiências do comportamento das pessoas, e até mesmo encontrar sugestão e inspiração de temas para alguma crônica, como é o caso do presente texto.

Dentre os muitos episódios que ensejam esse campo de observação, um deles é marcante nessa hora da refeição, quando é comum se assistir a verdadeiras batalhas entre pais e filhos em razão dos pais insistirem em dar aos filhos o alimento que eles julgam ser o mais adequado, e os filhos a recusarem sempre, alegando em alto e bom som, que “não gosto disso!”, acompanhado sempre de choros e gritos estridentes para tentar impor a sua vontade. É o tradicional “calundú”. Aí surgem as ameaças de que “se não comer vai ficar de castigo; o seu irmão vai para o parque e você não”, etc. A gritaria é tão grande que às vezes os vizinhos de mesa, entre si, já fazem um apelo íntimo: ô menino, come logo essa coisa!  Mas, de repente, os pais reconhecem que mais vale a força do argumento do que o argumento da força, e tudo se resolve com doses de carinho e amor.

DilmaNesse ingênuo conflito familiar que presenciei esta semana num restaurante em Itacaré-BA, captei no desabafo de um garoto que devia ter uns 4 anos, uma lição cheia de verdades que pode se ampliar para aplicação na vida prática, e mesmo nas reflexões sobre o mundo político atual. Com a voz ainda embargada pelos soluços, não é que ele teve um instante de lucidez, conteve repentinamente o choro, se acalmou e tentou dizer ao pai a razão da sua revolta…! “Mentir é feio… e você mentiu pra mim!”. A frase foi muito forte e dura para um pai ouvir. De súbito comentei com a minha esposa o quanto havia de verdade naquele desabafo do garoto, visto que faz parte da educação passada pela grande maioria dos pais, no sentido de que não se deve praticar na vida a mentira, mas a todo instante mentem para os filhos ou os induzem à mentira. Por exemplo, em casa o garoto atende a uma chamada telefônica para o pai ou a mãe, e estes, impensadamente, orientam-no a responder: “diga que não estou em casa!”.  Atire a primeira pedra, quem já não agiu assim!

Isso parece tudo muito simples, mas esse pequeno desvio que aconteceu lá na infância, na simplicidade da resposta que deveria passar ao interlocutor a mando dos pais, ocorreu o plantio da semente, a qual se desenvolveu ao longo do tempo na configuração de um caráter desvirtuado da essência da verdade no uso da palavra, passando a integrar como regra o mundo dos adultos onde as relações estão infestadas de mentiras de toda ordem.

No campo da vida prática, principalmente das relações entre governantes e governados, onde deveria haver o respeito mútuo, o que dizer de tantas obras públicas que às vezes são inauguradas solenemente e jamais entram em funcionamento porque o projeto não foi concluído? O leitor já deve estar lembrando-se de muitos maus exemplos comentados pela imprensa, que tratam de projetos públicos que foram várias vezes inaugurados solenemente, com corte de fita e muitos fogos, somente para render dividendos eleitorais, mas levam anos sem funcionar, efetivamente, porque foram apenas maquiados para enganar o eleitorado. Após paralisados por algum tempo, logo são beneficiados por aditivos que investem mais dinheiro público e elevam os seus custos de forma absurda e vergonhosa.

Só para lembrar ao leitor, em 2013 o Tribunal de Contas da União-TCU mandou parar 31 obras federais para investigar o uso ilegal de dinheiro público. Só nessas obras sob suspeita, R$ 23 bilhões estavam em jogo. Cito alguns projetos infestados de mentiras ao longo da sua execução: a) A Ferrovia Norte-Sul, projeto federal de 3.700 km, entre Açailândia-MA e Estrela d`Oeste-SP, concebida e iniciada no Governo de José Sarney em 1987, já dura 28 anos (!), e já fizeram 8 inaugurações de trechos! Até a sua conclusão muitos bilhões vão descer pelo ralo! b)Um hospital de quatro andares e 136 leitos, construção parada há dez anos, em uma cidade como Cuiabá-MT, está dominado pelo mato; o Governo do Estado diz, simploriamente, “que a obra já está ultrapassada, não serve mais para abrigar doentes”; c) Em um bairro de São Luís, no Maranhão, faltam pelo menos 400 vagas para os alunos da rede pública; mas, duas escolas, com capacidade para 2.400 alunos, foram construídas no local e abandonadas. A Secretaria Municipal de Educação informou que haverá nova licitação (!) para retomar as obras; d) Usina de Belo Monte, no Pará, prevista para 2014, adiada para 2015; custo inicial R$ 7,0 bilhões e o custo atual já está em R$ 28,9 bilhões! e) Só para fechar esse elenco, um registro merece ser feito: o PAC é um programa importantíssimo, mas já estamos no PAC-3 e há muitas obras pendentes dos PACs 1 e 2. Os projetos mais importantes do PAC-1 custariam aos cofres públicos R$ 156 bilhões, de acordo com as estimativas iniciais. Atualmente, esse valor já está em R$ 272 bilhões. Onde vamos parar? Ainda tem aqueles que de tanto repetirem uma mentira, acreditam ser verdade!

Conclui-se que os recursos públicos são usados para fins políticos, numa absoluta falta de respeito aos cidadãos, aos quais são passadas justificativas revestidas de mentiras e engôdos. Não se educa honestamente um povo se a prática dos governantes é passar-lhe constantes inverdades. Por exemplo, traçar um cenário otimista de estabilidade econômica do país durante a campanha eleitoral recente e logo após a vitória nas urnas muda-se diametralmente o discurso para falar da gravidade do quadro real e anunciar medidas duras e corretivas…! À nossa Presidente, o garoto do caso citado, diria entre lágrimas: “Mentir é feio… e você mentiu pra mim”, aliás… para 54,5 milhões de seus eleitores! Mas, cuidado, segundo o adágio popular:A MENTIRA TEM PERNAS CURTAS!

 

aGENOR CAPA 2

Autor:   Adm.  Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.

 

Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 17/01/2015

Florisvaldo Ferreira dos Santos

Consultor de Seguros e Benefícios