EDITORIAL ANO I NUMERO 30 – UM PARLAMENTO SEM VOZ.

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EDITORIAL ANO I NUMERO 30 – UM PARLAMENTO SEM VOZ.

Embora seja de importância fundamental como um dos três Poderes da República, é inegável o reconhecimento de que se acha extremamente desgastado, face a um somatório recente de fatos que marcam o desempenho individual e coletivo dos seus membros, além de uma credibilidade que se deteriora com grande progressão. Refiro-me ao Congresso Nacional! Mesmo assim, tenho o hábito, tal qual alguns poucos cidadãos deste país, de assistir ao debate parlamentar que ocorre na Câmara de Deputados e no Senado Federal, através das respectivas TVs institucionais, sempre alimentando a esperança de que na tribuna ou no plenário algo de bom aconteça, principalmente em defesa da pátria e dos seus filhos. Sei que é uma vã esperança!

Entristece ver que a conduta do Parlamento nacional raramente é regida por posições unicamente ideológicas ou partidárias divergentes, o que seria um perfil mais do que normal, considerando ser o repositório de todas as tendências. O que se tem testemunhado, porém, é que basta o Poder Executivo ter a necessidade de aprovar algo do seu interesse, e logo se iniciam as negociações pouco puritanas, manipulando os votos ao seu bel prazer e fixando as regras do jogo como desejado. Nesse estágio do jogo sujo e pouco democrático, a preocupação passa a ser a definição da moeda de troca que será utilizada: a) os cargos representativos da máquina pública para familiares e apadrinhados? b) Ministérios para os partidos? c) as presidências ou vice-presidências de estatais, das quais eles usam e abusam? d)ou ainda, se usa a moeda Real tupiniquim, ou aquela verdinha mais aceita nos Bancos dos paraísos fiscais? Na verdade, nesse jogo sujo, VALE TUDO!

Dentre as reformas de maior urgência e que por lapso omiti na última crônica – mas foi lembrada por alguns leitores -, e com a qual estou coeso, está a necessidade de redimensionar o tamanho de todo o Legislativo nacional, com extensão às Câmaras Estaduais e de Vereadores. Como se falar em ajuste fiscal nas contas públicas, se temos uma Câmara de Deputados Federais com 513 parlamentares e um Senado com 81, extremamente onerosos? Atrele-se a isso uma monumental estrutura de retaguarda, com um estupendo número de assessores, veículos, moradia, e tantas outras vantagens… De acordo com dados de julho de 2017, são 3.072 servidores, 1.640 ocupantes de cargos concursados de natureza especial (CNEs) e 10.804 secretários parlamentares. Cada gabinete pode contratar entre 5 e 25 secretários parlamentares, que prestam serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos Deputados em Brasília ou nos Estados. Seria mais que razoável e condizente com a real capacidade do país, reduzir a Câmara dos Deputados Federais para um máximo de 250, e o Senado Federal para um máximo de 41 senadores. Como podem ver, essa matemática não dá conta de tantas contas a pagar. Diga-se de passagem, contas totalmente inócuas, sem sentido e retorno zero.

Um detalhe chama a atenção do mais simples observador de uma sessão em Brasília: enquanto alguns tiram aquele leve cochilo, entre os que estão acordados 80% estão sempre ao celular, 15% conversam entre si ou se cumprimentam nas breves caminhadas pelo recinto e apenas 5% debatem os temas em pauta ou procuram dar um mínimo de sentido ao Parlamento. Mais impactante, ainda, é observar que dentre esses 5% que falam, tem aqueles que usam da palavra para informar que estiveram visitando este ou aquele município de sua base eleitoral, que a esposa do Prefeito aniversariou e ainda pedem que a sua intervenção seja divulgada nos órgãos de comunicação da Casa: Rádio, TV e na Voz do Brasil! O mais grave é que, enquanto falam tamanha idiotice e inutilidade, às vezes está em andamento uma Votação Nominal de alguma PEC ou Medida Provisória da maior importância, e a sequência é interrompida para comunicados de nenhuma relevância! Outro absurdo: por que só “trabalham” de terça a quinta? O mínimo que deviam fazer era ter um comportamento mais decente, até porque sabem que estão sendo filmados!

Pode transparecer que tenho ojeriza ao Congresso Nacional, o que não é verdade. O fato concreto é que a sua existência institucional dá legitimidade ao Sistema Democrático, e que dele jamais poderá prescindir. Contudo, deveriam estar implícitos em todos os seus atos e atitudes, as marcas da responsabilidade e da integridade e, sobretudo, do respeito pela instituição.

 

 

 

 

 

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).

 

Contribuição do:Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 03/09/2017

Comentários

2 Comments on EDITORIAL ANO I NUMERO 30 – UM PARLAMENTO SEM VOZ

  1. A forma como você justifica a sua avaliação da postura do Congresso Nacional é absolutamente inquestionável, Agenor. Independente deste ou daquele número citado sobre o tamanho ou o comportamento dos membros deste congresso, que é o mais caro do mundo, ainda temos a sensação que somos constantemente enganados pelo império da negociata e do favorecimento vigente. Mas, se ficamos revoltados, você lembrou muito bem que não podemos prescindir da democracia. E continuamos dependendo dela para excluir da vida pública os políticos que não merecem a denominação de representantes do povo. Pois, conforme sua conclusão, precisamos de responsabilidade, integridade e respeito. FOZ DO IGUAÇU-PR.

  2. Análise lúcida e perfeita do nosso Poder Legislativo. É triste e incomodativo ver o orador do momento falando para ninguém. Todos ao telefone ou trocando figurinhas como se nada tivesse ocorrendo ao redor. É constrangedor. (Salvador-BA).

    COMENTÁRIOS – UM PARLAMENTO SEM VOZ
    PAULO SODRÉ – [email protected] – (publicado no Florisvaldo)
    Verídico, sensato, coerente, seu comentário, amigo Agenor Santos!!! (Barra do Mendes-BA).
    ROBERTO DANTAS-Prof. – [email protected] – (publicado no Florisvaldo)
    Comungo, sem quaisquer discordâncias, dos seus sentimentos de revolta e desilusão e, tal
    qual você, também "padecia" do interesse de, sempre que possível, acompanhar as diversas
    sessões – sejam as da Câmara dos Deputados, sejam as do Senado – pelas TVs
    institucionais. Ao menos, deste "sofrimento" me livrei.
    Assim, todas as suas reflexões expostas nos dois breves textos são absolutamente
    pertinentes. Não pelo fato de eu ser um educador, ou de particularmente militar numa
    universidade pública (militância docente de 27 anos de labuta, realizações, alegrias e
    desilusões), mas, como cidadão minimamente informado e que sempre perscrutou os
    caminhos quase sempre sinuosos da História, concebo ainda que a única "salvação", mesmo
    que demande considerável tempo, é a qualificação verdadeira e honesta da educação
    pública. A partir de uma responsável intervenção – transparente, democraticamente acessível
    e, em especial, igualitária para todos – promoveremos, com novos estímulos e dedicação
    cotidiana, as mudanças cabíveis, a renovação das mentalidades, desde nas formas de pensar
    e agir no seio da sociedade até a aquisição de novos e superiores estágios de conhecimento
    e crítica que então fundamentarão as nossas escolhas e ações concernentes, portanto, ao
    pleno e saudável exercício da cidadania. Trata-se de um sonho? Talvez. Mas, que seja!
    (Salvador-BA).
    FLÁVIO MENDONÇA.’. – [email protected] – (publicado no Florisvaldo)
    Mais uma vez a sua observação é valiosa no sentido de comprovar o comportamento
    indesejável e repugnante dos Deputados Federais e Senadores. É evidente, também, que
    esse comportamento inócuo de um grupo que pode representar 50% desse contingente,
    deveriam aproveitar esse momento de crise financeira, para reduzir o número desses
    parlamentares. Afinal, hoje o país vive com um patamar explícito de um déficit previsto em
    torno de 159 bilhões.
    É indiscutivelmente um momento de se fazer uma redução de gastos sem retorno e sem
    nenhum benefício para o povo.  Você tem toda razão de proclamar essa atitude que deve ser
    posta em prática URGENTE – URGENTÍSSIMA, para iniciar o equilíbrio financeiro do país,
    reduzindo o número desses supostos representantes do povo, são, na verdade, protagonistas
    que estão afundando o Brasil com o desequilíbrio financeiro (Manaus-AM).

    COMPLEMENTOS DO MODESTO EDITOR DO AGENOR, DEUSIMAR- O HOMEM FORTE DAS ABELHAS: 

    Deusimar- O Homem Forte das Abelhas, vai pegar  carona nas sábias palavras do  nosso querido escritor Ariano Suassuna, para complementar  a brilhante dissertação apresentada pelo nosso cronista Agenor Santos, que acabou de montar  o retrato falado do nosso lamentável Parlamento  Nacional. Com os conceitos do nosso Ariano sobre otimismo e pessimismo, de acordo com a caótica situação de nosso maior Parlamento Nacional, aquele(a) brasileiro(a) que ainda tem o mínimo do minimo de otimismo não é um tolo, é um verdadeiro cego da razão(a pior das cegueiras do ser humano).  Considerando o sistema bem montado pela classe politica, não querendo ser um dos milhões de brasileiros(as) chatos(conceito de pessimista do Ariano), prefiro ser um realista esperançoso se for para ter esperanças do verbo esperançar, conforme deixa bem claro esta outra fera da literatura brasileira, o Dr. Mário Sergio Cortella(Basta clicar no link do vídeo abaixo).

    ..

    Ser um realista esperançoso conjugando o verbo esperar que as coisas aconteçam, com a nação brasileira adormecida em um sono profundo, aí é sem futuro e o esquema montado pela classe politica vai nos massacrar por muito tempo. A única esperança de se resolver esta caótica situação é o gigante acordar de novo como acordou em 1992 para a retirada do Presidente Collor,e em 2016 para a retirada da Presidente Dilma. Ambas retiradas de forma injustas porque parlamentares de roupas sujas não podem falar, quanto mais julgar parlamentares das roupas mal lavadas. O gigante tem que acordar de novo numa terceira vez para pedir em caráter de urgência urgentíssima o fechamento das duas casas de poderes (câmara e senado federal)

    NOTE: Clicar nas imagens para obter 100% da visualização.

    COLABORAÇÃO E COMPLEMENTOS DE:

    José Deusimar Loiola Gonçalves

    Técnico em Agropecuária(Assistente Técnico de Desenvolvimento Rural-FLEM-BAHIATER-Governo do Estado); Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas ; Licenciado em Biologia e Pós Graduado Em Gestão e Educação Ambiental(Apicultor e Meliponicultor).
    Fones de contato: 75- 99998-0025( Vivo-Wast App); 75- 99131-0784(Tim).