EDITORIAL ANO II NUMERO 69 – ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

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EDITORIAL ANO II NUMERO 69 – ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

Em estado de grande efervescência na política nacional, é natural que as redes sociais estejam infestadas de matérias de todas as tendências, charges criativas e jocosas, notadamente por parte daqueles que vibraram de forma mais excitada com a prisão do ex-presidente, fato que inspira reações as mais variadas. Talvez seja um contraponto às manifestações frequentes da militância, quase sempre exacerbadas e patrocinadas pelas organizações sindicais e afins. É bom lembrar, por falar em patrocínio, que isso não existe sem dinheiro… e de onde vem? Do meu, do seu, do nosso bolso!

Um fato que me parece relevante pensar, é que por mais que se queira endeusar “Sua Santidade” – aquele que cometeu a blasfêmia de se comparar a Jesus Cristo em honestidade -, outros nomes importantes do partido foram parceiros nos mesmos crimes. Ministros fiéis por anos a fio como Antônio Palocci e José Dirceu, Delúbio Soares e João Vaccari Neto (ex-Tesoureiros do partido), André Vargas (Deputado), e muitos outros, entre políticos, empresários e executivos como Aldemir Bendini (ex-presidente do BB e da Petrobrás), foram presos ou ainda estão encarcerados, e ninguém derramou uma lágrima por eles! Ninguém questionou a justiça ou a legitimidade daquelas condenações. Os seus crimes foram praticados de forma isolada e individualmente, ou fizeram parte de um esquema bem coordenado de sangria da nação? Pelo contrário, foram deixados no esquecimento como se fossem menos humanos que outros. Em nenhum momento a presidente do partido, Senadora Gleisi Hoffmann, comandou a implantação de vigília de protesto em frente à Polícia Federal, o que é discriminatório e humilhante! Imagino como se sentem esses seus outrora companheiros. Talvez se sintam otários, no mínimo!

Não teria jamais a pretensão de ocupar o papel de juiz no instante dessa breve análise, e o julgamento do mérito fica para os juristas. Mas, não posso deixar de entender que o que houve com a prisão foi um desfecho óbvio diante de um ato condenatório emitido por duas Instâncias Judiciais, e confirmado por dois Tribunais Superiores de 3ª. e 4ª. Instância (STJ e STF), após cumpridos exaustivos direitos de defesa! O que dá a entender é que as condenações foram ratificadas de A à Z, sem nada mais a fazer.

O Lula pregou tanta coisa positiva no passado contra os corruptos e a corrupção, afirmando que precisava acabar a impunidade no Brasil e que o lugar desses infratores era na cadeia, que despertou no brasileiro desencantado a convicção de que finalmente tinha surgido uma liderança íntegra, honesta e pura de intenções, e que veio para resgatar a confiança perdida! Vou recordar pequeno trecho de uma entrevista dele com o jornalista Milton Neves a respeito de Fernando Collor, em 1993, para sentir como soava fácil e de forma verborrágica o seu espírito ainda não corrompido: “Lamentavelmente, a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar a corrupção fez com que o Collor jogasse por terra o sonho de milhões e milhões de brasileiros. […] E… e… e ao invés de criar um governo, criou uma quadrilha como ele construiu” (!). Em outra ocasião, disse: “Se dependesse de mim, todos esses deputados corruptos estariam na cadeia” (!). Ressalto que não estou inventando nada, apenas voltando no tempo e juntando os cacos, os causos, os atos e os fatos.

Compreendo os motivos de ainda restarem alguns milhões de brasileiros que imaginam e acreditam na volta de um sonho um dia sonhado, mas acredito muito nas verdades ditas pelo grande Abraham Lincoln: “Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Por algum tempo, mesmo desconfiado, também fiz parte desse universo de esperançosos, mas, hoje, como tantas outras pessoas, estou com a frase final do Lincoln.

Tenho todo o respeito do mundo àqueles que preservam o sentimento de fidelização político-partidária por comprometida vocação ideológica, mas o sectarismo em excesso em torno de um líder populista que abusou do seu sucesso conduz à cegueira estúpida, e ao bloqueio do surgimento de novas lideranças, de cujo mal o PT agora está sendo vítima, ao mesmo tempo que vive pregando um discurso destoante da realidade.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.

 

Contribuição do:Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 15/04//2018

Colaboração e Complementos de:

 

Comentários

6 Comments on EDITORIAL ANO II NUMERO 69 – ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

  1. ROBERTO RUSSO // 15 de Abril de 2018 em 07:14 // Responder

    Realmente, muito bem lembrado. E os outros, não tem e nem terão o mesmo apoio né? Muito bom esse apoio somente a um deles… Imagino como estão se sentindo; que sirva de lição também…Não tenho dó de ninguém, tem que ficar enjaulado por muito tempo. Tomara quem for fã dele, comecem a acordar… é pedir muito? (S. Paulo-SP).

  2. Concordo em tudo escrito aí. Beleza. (Miguel Calmon-BA).

  3. GILVACI MATIAS // 15 de Abril de 2018 em 07:19 // Responder

    Parabéns! Amigo Agenor pela matéria e por pesquisa no” passado” não muito distante. Faça o que falo mas não faça o que eu faço (Irecê-BA).

  4. Florisvaldo Ferreira dos Santos // 15 de Abril de 2018 em 09:14 // Responder

    Caro Agenor, bom dia!

    Com esta excelente crônica, os leitores tem a condição de relembrarem algumas frases ditas (ou imaginadas) por personalidades da história brasileira, entre as quais, aquelas pérolas como: “Esqueçam o que eu disse”, “Esqueçam o que eu escrevi” ou ainda, “Esqueça de mim”.
    O que pregava o ex-presidente Lula quando ainda em campanha, em termos de “chacota” ou não, ficará registrado nos anais da história, já que fez exatamente o contrario do que prometia.
    O leitor com mais 30 anos vai recordar-se de uma musica interpretada por Renato e Seus Blue Caps, intitulada: “Faça O Que Eu Digo, Mas Não Faça O Que Eu Faço”, que tem tudo a ver, logicamente ao contrario do pensamento dom ex-presidente.
    Voltando ao passado, mesmo que ainda recente, veremos que os seus principais assessores diretos, Antônio Palocci, José Dirceu, Delúbio Soares, João Vaccari Neto e tantos outros, seguiram fielmente o contraio da musica, compreendendo que a ordem do Presidente seria a seguinte: “Não Faça O Que Eu Digo, Mas Faça O Que Eu Faço”, daí, deu no que deu.

    Um excelente domingo para todos.

    Florisvaldo F dos Santos

  5. Eden Lopes Feldman // 15 de Abril de 2018 em 11:32 // Responder

    Agenor, quando leio suas palavras elucidativas deste momento político da vida brasileira, que simplesmente demonstram que ainda existe um radicalismo que já não tem mais sentido, fico imaginando qual será nosso futuro. Estamos com um país perplexo por ver tantos líderes envolvidos em uma corrupção que provoca a sensação que vivemos um pesadelo. Sinceramente, não vejo soluções. Apenas aguardo o surgimento de novas denúncias. FOZ DO IGUAÇU-PR

  6. DILTON LÁZARO // 15 de Abril de 2018 em 19:43 // Responder

    Concordo com o irmão, para dar uma opinião tem que fazer uma retrospectiva. (Salvador-BA).