EDITORIAL ANO II NUMERO 76 – A VOZ DAS ESTRADAS.

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EDITORIAL ANO II NUMERO 76 – A VOZ DAS ESTRADAS

Depois da nação conviver ao longo de tantos anos com movimentos reivindicatórios legítimos, ou de natureza política, e cujas manifestações de rua quase sempre exibiam a marca negativa do vandalismo exacerbado oculto sob as máscaras covardes dos “Black blocs” a destruir o patrimônio público e privado, eis que um novo tipo de movimento classista se apresenta ao país com um poder e volume de consequências antes inimagináveis, e que pode ser classificado como A VOZ DAS ESTRADAS! É de se acreditar que nem mesmo aqueles que assumiram a liderança dos caminhoneiros em nível nacional tenham a consciência da força que representam e o poder que têm nas mãos. Assim, provam a muitos que suas mãos sabem guiar não somente volantes de caminhões, mas, também, conduzir propostas importantes em defesa desse segmento de trabalhadores deste país.

Impossível não compreender que são justas e extremamente razoáveis as reivindicações desses importantes profissionais que transportam o progresso pelas estradas do país, colocando em risco a própria vida, diante da insuportável tributação que recai sobre os combustíveis, principalmente a incidência sobre o Diesel que utilizam, ao lado dos elevados custos adicionais de pneus, peças, pedágios, etc.

Não obstante a razoabilidade e justiça daquilo que reivindicam, parar a principal via de transporte de insumos básicos para a indústria nacional e atendimentos hospitalares, é preocupante por estagnar o escoamento de toda a produção agrícola e industrial, além de atingir o centro nevrálgico da saúde e da educação. Isso para não falar da enorme ferida na estrutura produtiva da nação e um incalculável prejuízo à economia nacional! Aqui se entenda, prejuízo sem volta.

Cada setor produtivo foi atingido no cerne de sua estrutura e a sua recuperação poderá ser muito penosa, porque todos têm o seu funcionamento interligado e interdependente. O frigorífico depende da produção das granjas e da pecuária de larga escala, que dependem da produção de ração e suplementos minerais. As indústrias, em geral, dependem de matérias-primas de toda ordem para o seu processo produtivo. E os nossos caminhoneiros representam o elo de ligação de toda essa máquina produtiva em conexão com o consumidor final à espera desses bens.

Muito se reclamava, ultimamente, pela falta dos “panelaços” ou do povo nas ruas, para protestar pelos erros cometidos pelo atual governo, cuja fragilidade para mim não foi surpresa. Quem leu os meus artigos na fase de andamento do processo de impeachment da Dilma, deve se recordar do que então já dizia:que seria uma simples troca de SEIS POR MEIA DÚZIA. […] que, concretamente, nada mudaria no perfil entre o governo que entra e o que sai (se sair!). Para restabelecer a credibilidade perdida no âmbito interno e externo, e o país retomar o seu desenvolvimento econômico, somente a instituição de ELEIÇÕES GERAIS pode oferecer ao povo a oportunidade de fazer uma varredura completa, defenestrando, igualmente, aqueles que envergonham o Congresso Nacional” (O “GOLPE” EM DOIS ATOS,17/04/2016)Assim, este autor já previa o cenário que se desenhava para o futuro e que hoje se faz presente. Eventuais acertos desse tipo, contudo, não faculta a alguns radicais sectários o direito de atribuir ao autor a pecha de direita, esquerda ou conservador de centro, porque, na verdade, não passo mesmo é de um exigente eleitor nacionalista e sem vinculação partidária.

De todo esse imbróglio que o país está vivendo, uma coisa é certa: QUEM VAI PAGAR A CONTA É O POVO!  O governo, de forma simpática, negociou com os caminhoneiros, excluiu o PIS/COFINS e a CIDE do custo do Diesel, mas logo afirmou que ia ter de buscar essa receita em algum lugar para compensar o valor que estava perdendo. De pronto o Ministro da Fazenda pensou em reduzir BENEFÍCIOS. Ora, porque não planejou uma fórmula de como reduzir as pesadas despesas do Estado, e à metade o número de Ministérios, ou lançar uma PEC-Proposta de Emenda Constitucional para reduzir 50% do tamanho do Congresso Nacional!!! Para que 513 Deputados e 84 Senadores? Para o desfrute de fartas verbas de gabinete e auxílio moradia, e fazer correr por 597 ralos a sujeira que todos os dias nos damos conta? Só se for!

A grande preocupação atual é que o movimento ordeiro dos caminhoneiros terminou sendo corrompido no seu final pelos agitadores de sempre, infiltrados, que procuraram usurpar um pouco do sucesso obtido pelo movimento, maculando-o com a verbosidade colorida e a violência de sempre.

Assim como a partir da década de 1950 os governantes de então cometeram a infelicidade de iniciar o sucateamento das Ferrovias brasileiras, quem sabe os atuais, agora reféns do sistema rodoviário, resolvam repensar a gradual reativação da Rede Ferroviária Nacional!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador – BA.

 

Contribuição do:Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 03/06/2018

 Colaboração e complementos de:

 

 

 

6 Comments on EDITORIAL ANO II NUMERO 76 – A VOZ DAS ESTRADAS

  1. HENRIQUE TADEU // 3 de junho de 2018 em 08:47 // Responder

    Bela crônica. Quanto aos reflexos da paralisação, ela não faria sentido se não houvessem os reflexos. A greve dos bancários deixou de fazer sentido depois que os sistemas automatizados conseguem fazer praticamente tudo. Lembro dos nossos tempos de Irecê, quando a greve paralisava a compensação e não tínhamos os caixas/sistemas automatizados. Aquelas greves, ao contrário das que acontecem hoje, incomodavam e faziam sentido. A incompetência foi do governo, pois a paralisação foi sinalizada com bastante antecedência, sem que ninguém fizesse nada.
    O que mais me deixou encabulado foi o povo. Como podemos reclamar do preço da gasolina se, durante o movimento, aceitamos preços exorbitantes?? Era o momento de pararmos o País por completo. Mas o povo brasileiro não consegue se mobilizar positivamente para nada… É cada um por si, e o resto que se resolva.
    Eu mesmo, cheguei a pagar 12,00 pelo quilo do pimentão, que hoje já voltou a 2,00. Será que eu não poderia deixar de ter efetuado esta compra? Lógico que sim, e faço o “mea culpa”, com o atenuante de que se tratava de comida, sem a qual não podemos sobreviver.
    Concordo que o final do movimento passou dos limites, principalmente pelas agressões sofridas por alguns caminhoneiros. (Salvador-BA).

  2. JOSÉ BEZERRA // 3 de junho de 2018 em 08:51 // Responder

    Meu caro e velho querido amigo Agenor: Não me canso em repetir que você é mesmo um “CANETA DE OURO”. Renovo meus sinceros parabéns por mais uma CRÔNICA que sempre traz como tema, o que costumo qualificar de verdades verdadeiras. (Salvador-BA).
    (Ex-Superindente (Bahia) e ex-Diretor, do Banco do Brasil).

  3. FLÁVIO MENDONÇA.’. // 3 de junho de 2018 em 13:44 // Responder

    Realmente você foi feliz em fazer esta grande abordagem com a crônica A VOZ DAS ESTRADAS. Tivemos uma indiscutível prova que nesta paralisação, nem os próprios atores tinham a certeza do efeito tão contundente do caos e reflexos que sofreu toda Sociedade brasileira e segmentos de produção agropecuária e industrial.
    Com a certeza de que o grande prejuízo causado, será debitado na conta de toda Sociedade brasileira. Principalmente, porque o atendimento à principal reivindicação ao Governo Federal, na negociação foi sinalizado que o Governo vai remanejar recursos que nem sequer vem atendendo às necessidades sociais, como educação, saúde, etc. em detrimento de continuar o aumento constante no preço do petróleo, principalmente a gasolina e gás, produto de uso diário do brasileiro, e sequer o diesel que ao findar o ano vai novamente sentir o abalo dos aumentos alegando que não haverá mudanças de preço do combustível, porque a Petrobrás vai continuar a política de preços do petróleo internacional. Outro aspecto abordado foi o sucateamento e abandono da rede ferroviária por volta dos ano de 1950, pois, se houvesse uma rede ferroviária em nosso grande espaço territorial, haveria, por certo, uma logística capaz de diminuir o custo dos produtos agropecuários e minerais, capaz de favorecer os custos principalmente para a sustentação e engrandecimento do nosso AGRONEGÓCIOS, que ainda tem um reflexo positivo na nossa economia.
    E como ressaltou também: Pra que tanta mordomia e tantos representantes no Congresso Nacional? Este é realmente o grande problema, porque a Sociedade Brasileira é que vem pagando um preço alto para manter essa corja de Políticos Demagogos que sobrevivem por conta dos elevados tributos e encargos de toda sorte de IMPOSTOS QUE ATÉ HOJE VEM SUFOCANDO TODA SOCIEDADE BRASILEIRA. (Manaus-AM).

  4. EDSON TENÓRIO // 3 de junho de 2018 em 18:30 // Responder

    Muito boa sua crônica desta semana, abordando a situação da greve dos caminhoneiros.
    Como sempre, não se observou o direito constitucional de se locomover. Os prejuízos causados aos setores produtivos não foram considerados. Como nós somos um país que não se cumpre as leis, a conta realmente será paga pela população. O que observamos, também, a total desunião entre os grevistas, mostrando que não se quer solucionar os problemas do Brasil. Será que daremos respostas nas urnas próximas? Não acredito! (Camamu-BA).

  5. Florisvaldo Ferreira dos Santos // 3 de junho de 2018 em 19:28 // Responder

    Prezado Agenor, boa noite!

    É impossível e inegável dizer que a “A VOZ DAS ESTRADAS!” e as importantíssimas reivindicações feitas pelos caminhoneiros, mostraram a fragilidade que o governo tem em administrar fatos que não se limitam apenas emitirem decretos ou medidas provisórias.
    Recordo-me muito bem dos seus artigos, em que você alertava sobre a troca de “SEIS POR MEIA DÚZIA” e “O GOLPE EM DOIS ATOS”.
    Neste episodio, tenho tido o cuidado para não ser mal interpretado por algumas pessoas, ao afirmar que uma parcela dos “VERDADEIROS CAMINHONEIROS” deu um “tiro no pé” ao serem usados pelas grandes organizações de transporte e politicas partidárias, já que dos bastidores, jogaram os profissionais na linha de frente e passaram agir em silencio.
    Basta olhar que setor produtivo foi atingido de morte, trazendo as consequências a toda população que se deparou com a escassez de produtos essenciais, tendo que pagar o dobro do preço antes do movimento, sem ter a mínima condição de se defender ou reagir.
    Esta constatação eu dou como testemunho, já que se deu comigo: Em 22/05/18, abasteci o meu automóvel com álcool ao preço de R$ 2,299.
    Em 30/5, após o governo anunciar a população e publicar o Diário Oficial, que tinha atendido a “todas” as exigências feitas pelos grevistas, voltei ao mesmo posto e tive que abastecer com álcool ao preço de R$ 3,199
    Daí vem a minha pergunta: Que matemática é esta? Quem foi o vilão da historia?
    Que vantagem o Florisvaldo (que poderia ser um motorista profissional) teve? Nem estou me referindo aos preços nas gondolas dos supermercados ou a distribuidora do gás de cozinha.
    Concordo em gênero, numero e grau quando você disse: “De todo esse imbróglio que o país está vivendo, uma coisa é certa: QUEM VAI PAGAR A CONTA É O POVO!”.
    Querendo ou não, esse “povo” somos nós, independente de ser ou não caminhoneiro.

    Abraço,

    Florisvaldo F dos Santos

  6. Precisamos apoiar essa classe tão importante para o país, que mostrou que com união e sentimento de coletividade, deu o primeiro passo de indignação e revolta com esses políticos medíocres que estão no poder. Acredito que vai fazer as pessoas refletirem um pouco mais para as próximas eleições. (Salvador-BA).