EDITORIAL ANO II NUMERO 72 – A TRAGÉDIA E O PODER PÚBLICO.

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EDITORIAL ANO II NUMERO 72 – A TRAGÉDIA E O PODER PÚBLICO

O desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, de 24 andares, ocorrido no Largo do Paissandu, em S. Paulo, na última semana, somente não se configurou como mais uma tragédia de grande proporção com a perda de centenas de vidas, porque, com o início do incêndio, houve tempo para a maioria das famílias de invasores abandoná-lo antes da implosão ocorrida em seguida ao incêndio. Mesmo diante do cenário de dor, um espetáculo dantesco foi protagonizado pelos representantes da União e do município de São Paulo nas entrevistas às televisões, que se esforçavam na tentativa de fugirem à responsabilidade pelo descaso de já decorrerem quase 20 anos sem a definição de quem é o legítimo proprietário do prédio, e este se deteriorava progressivamente por falta de manutenção. Ou seja, aquelas figuras deveriam ter ficado em casa com um travesseiro na cara e não procurando exibição num momento de infortúnio como aquele que todos viram.

Em decorrência de não ter dono definido, foi invadido pelos sem teto sob o patrocínio de lideranças que os exploram por dinheiro, vergonhosamente. E pensar que o prédio era uma construção de 1968, projetado pelo arquiteto francês Roger Zmekhol e considerado como exemplo da arquitetura moderna, o qual foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo.

É chocante saber que entre edifícios, residências, galpões e terrenos espalhados pelo país e pertencentes à União, existem cerca de 18.000 imóveis, sem qualquer uso e, às vezes, em estado de total abandono, o que favorece as ocupações. Enquanto isso, no entanto, o Governo Federal desembolsa bilhões em aluguéis de prédios para funcionar os serviços públicos, em volume que corresponde a quase quatro vezes do valor repassado ao programa Minha Casa Minha Vida, de apenas R$ 2,0 bilhões. Desfazer de alguns desses ativos imobiliários visando custear a reforma e manutenção de outros imóveis utilizáveis, seria uma alternativa que reduziria custos, mas a burocracia oficial predispõe entraves a esse processo.  É espantoso tudo isso!

É um absurdo incomensurável, digno da repulsa de todo o cidadão brasileiro, conceber que num país carente de mais investimentos nos campos da saúde, educação, transporte e segurança, que os recursos públicos sejam tão mal administrados, atingindo o cúmulo da irresponsabilidade total ao se construir ou alugar novos espaços para o funcionamento dos serviços públicos, ao invés de utilizar os imóveis próprios preexistentes. Talvez haja interesses subjacentes ou uma sutil intenção de alimentar o ego doentio de cada novo administrador que assume o poder.

Por outro lado, logo após empossados, via de regra exercitam a prática danosa de extinguir Secretarias e Ministérios como se estivessem iniciando uma reforma profunda e indispensável, quando, na verdade, tais instituições apenas têm o nome ou parte do nome substituídos para exibir a cara do novo governo, o mesmo acontecendo com Autarquias, Departamentos e Empresas do Estado, a exemplo do ocorrido com o DNER/DNIT, ANCARBA/IBCR/EMATERBA/EBDA, entre centenas de outros! Uma vaidosa insanidade administrativa para iludir o eleitorado!

Paralelamente a atitudes administrativas dessa natureza, recordo-me de artigo aqui publicado em 13/04/2013, sob o título “AS OBRAS INACABADAS”, onde destaquei um elevado número de obras não concluídas de creches, escolas, hospitais, viadutos, estradas, etc., mas cujos recursos foram contabilizados como aplicados. Não importando se foram na sua maioria mal aplicados… ou desviados!

As máculas dos desvios de gestão comentados cinco anos atrás permanecem imutáveis, e por isso concluo repetindo um pensamento contido naquela crônica – abril de 2013 -, indicativo de que o comprometimento moral não se alterou com o tempo: Ao final, certamente que um monumento será inaugurado para mostrar à posteridade como se desviava verba pública no passado. Quem é o culpado, ninguém sabe, porque “filho feio, não tem pai”!

 

 

 

 

 

 

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador-BA.

 

Contribuição do:Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 06/05//2018

Colaboração e complementos de:

 

 

 

 

 

Comentários

4 Comments on EDITORIAL ANO II NUMERO 72 – A TRAGÉDIA E O PODER PÚBLICO

  1. HENRIQUE TADEU // 6 de Maio de 2018 em 07:30 // Responder

    Beleza, chefe! No meio da tragédia, foi dado mais enfoque a ocupação irregular do que aos outros aspectos, principalmente as vidas humanas. (Salvador-BA).

  2. Muito bem pontuado, a nossa realidade. Salvador-BA).

  3. Florisvaldo Ferreira dos Santos // 6 de Maio de 2018 em 09:32 // Responder

    Bom dia mestre Agenor!

    Excelente relato.
    A impressão que da ao leitor é de que você esteve ao vivo e a cores no ato e no local dos acontecimentos.
    Isto só é possível, graças a pessoas “antenadas” como você é, que não se permite a deixar de enxergar as coisas que acontecem além da divisa do seu Bairro, Município, Divisa do seu Estado ou a divisa do seu País.
    Parabéns!
    Sobre o artigo, faço duas observações, mesmo sem ter a mínima pretensão de alterar ou corrigir:
    1) O ideal é que a imagem ilustrativa do artigo tivesse o titulo de “A TRAGÉDIA DO PAISSANDÚ”, ao contrario “DA”. 2)
    2) Quando você diz: “Autarquias, Departamentos e Empresas do Estado”, sem nenhum medo de errar, eu incluiria a também a União.

    No mais, como te disse, achei excelente.

    Florisvaldo F dos Santos

  4. Eden Lopes Feldman // 6 de Maio de 2018 em 10:11 // Responder

    Agenor, suas palavras foram certeiras e totalmente adequadas a realidade da caótica administração pública brasileira. E relendo a crônica que você se refere de 13/04/2013, sinto uma angústia por ver uma situação que se arrasta governo após governo, e que bradam que a democracia brasileira é uma realidade. Sinceramente, não acredito nisto. O que temos é o domínio da burocracia política para proteger os seus apaniguados. Mudam apenas os reis, o reinado é o mesmo. Inclusive com a vergonhosa e insana atividade dos ditos movimentos sociais. FOZ DO IGUAÇU-PR